CAPÍTULO: Tomada de decisão em grupos

Pontos: 3

Qualquer projeto colaborativo acaba esbarrando num dilema: como tomar decisões sem que alguém se sinta excluído? Muitas vezes, não é possível reunir todas as pessoas para tomar todas as decisões. Isso pode tornar o processo muito lento e burocrático. Por outro lado, se alguém sai tomando todas as decisões sem consultar os demais, acaba virando show de um homen só.

crossroads.jpgPor outro lado, o que é uma decisão? É uma escolha entre opções? E como se dá a construção dessas opções? Escolher dentre opções satisfaz o desejo de participação de todos os participantes do projeto?

E se por acaso alguém é contra uma decisão majoritária? Tem que aceitar? Ou o grupo volta atrás e constrói uma opção nunca antes considerada?

Como organizar um projeto colaborativo baseado nos ideias democráticos? É possível organizar um projeto com ideais anárquicos? E hierarquia, é necessário?

A proposta desse capítulo é discutir esse temas, que estão longe de serem resolvidos. Além das ferramentas de suporte de decisão aqui do Corais, como a votação, serão levantadas outras possibilidades fora do Corais, como o Delibera.

Comentários

#1

Acho fundamental que tenha este capítulo. Podemos fazer uma abordagem inicial, falando do histórico cultural do processo de tomadas de decisão, baseados no dito "centralismo democrático" e em estruturas hierárquicas. A partir da hipotese de que esses dois processos estão arraigados culturalmente em todas as instituições em que são tomadas decisões coletivas, partiriamos para os questionamentos colocados acima por Fred.

#2

Excelente contribuição Carlos. Também acho que devemos começar pela construção cultural das opções e das formas de escolher. Porém, temos que ir além de dizer que isso é um fator arraigado em nossa cultura. Precisamos mostrar como essas estruturas se reproduzem e como podem ser alteradas.

Minha experiência é que projetos colaborativos dentro de uma instituição altamente hiearquizada tem grande risco de não dar certo, porém se conseguem, seu sucesso pode modificar toda a instituição. 

#3

Opa.

Acho importante também ilustrar bem esse capítulo como tomadas de decisões colaborativas bem anteriores aos processos que estamos passando agora. Talvez um levantamento histórico. Penso que outros povos e outras culturas tenham suas tomadas de decisões baseadas em outras lógicas, diferentes na centralização do poder. Acho importante, fazendo um bom recorte, tentar achar quando se deu a (possível) tomada de decisão centralizada em contraponto as tomadas mais colaborativas. Acho legal tentar achar como se deu a legitimação deste modelo e como se deu a desqualificação do outros modelos. Acho que daria uns panos para manga legais.

(desculpem se não fui muito claro, estou teclando com um netbook que não é meu e numa conexã 3g. estou sem mesa e cadeira, teclando do chão)

#5

Curti muito essa ideia Isaac! A gente podia apresentar no formato de historias, com imagens, fotos, e até mesmo quadrinhos.

O que o Jatobá colocou é importante. Os outros modelos estão por aí. Não podemos pensar que tudo está perdido. Na verdade estamos contribuindo para o reflorescimento dos modelos de organização variados.

#4

Ola Fred e Carlos, tb acho um bom caminho inicial pra este capitúlo, proponho somarmos  a isso a experiência das ecovilas, comunidades de software, movimentos de ocupação entre outras ações em rede da sociedade civil que trabalham com a tomada de decisão coletiva como premissa básica de funcionamento.

Em relação a hierarquia acho que seria interessante uma analise das diferenças entre Chefe e Líder. E como em processos autogestionários existem divisão de responsabilidades, grupos de focalização e o papel da Liderança seja ela individual ou compartilhada é fundamental para o bom andamento das células e com isso de todo o organismo.

Dentro de hierarquia podemos abordar como esta flerta com o acumulo de poder e com o modelo de pirâmide formado por castas (visíveis e invisíveis) e relações assimétricas (portanto permanente desiguais e insatisfatórias) de poder.

Outro ponto legal q vejo é a tomada de decisão e a educação. Será que as escolas reproduzem espaços democráticos e autogestionários? Quais linhas educacionais e que metodologias de ensino podem ajudar a aprender o que é uma decisão e como se posicionar em questões coletivas do seu território

Para não ficarmos apenas no texto tenho algumas ilustrações interessantes de momentos de tomada de decisão coletiva. E tambem isso pode ilustrar formatos de reuniões. RODA ou PLATEIA? Inscrição, Tempo de Fala, Rotatividade, dinâmicas para estimular quem não gosta de tomar decisão... Enfim acho q estas são outras abordagens significativas.

#6

Penso - pela experiência em projetos educacionais e comunitários, que, dependendo da percepção do acolhimento individual, da abertura do grupo as múltiplas ideias, da habilidade em interatividade comunicacional dialógica e aqui, mediada e, ainda, da visão do todo maior e respectivo desejo de colaborar, o que pode ser influenciado por 'n' fatores como o 'acreditar' no potencial da colaboração empreendedora, nas experiências passadas (boas ou nem tanto) e,  principalmente na maturidade e autoconhecimento para atuar e contribuir, ciente de suas possibilidades e limitações, tendo presente o sentido da interdependência humana, que favorece e ativa a inteligência coletiva, capaz de superar as dificuldades. 

Com isso, não parece ser problema tomar decisões coletivas com divergências, se tod@s pensarem nos objetivos ensejados e previamente acordados. 

O mesmo vale para a tomada de decisões por alguns (os que se fizerem presentes em tempo). Para mim, entra aí o sentimento de pertença ao grupo, que faz com que 'confiemos' nas decisões dos presentes que, em nossa ausência #nosrepresentam.

Essa a visão ideal, ou romântica (como preferirem?) de grupos de trabalho colaborativos. Na prática, lidamos com egos e precisamos ter cuidado para prevalecer a comunicação empática, com muita escuta ativa ao outro, para - se necessário, nos colocarmos no seu lugar, para perceber do seu ponto de vista. 

Sempre que temos opções claras, coconstruídas a partir de critérios focados no atingimento dos objetivos, a compreensão racional fica favorecida, ainda que possa não satisfazer o desejo de participação de todos. Ajuda naturalizarmos isso desde o início, para que a perspectiva contagie, mesmo em casos extremos de alguém se colocar contra uma decisão majoritária. Entretanto, aquele um pode estar vendo algo que os demais não veem e logo, precisa contar para que a decisão possa ser reavaliada e quem sabe daí surja um novo encaminhamento e solução.

Tenho experiências de participação em projetos centralizados e descentralizados, com ou sem hierarquia e com liderança alternada e em uma com ideias anárquicas. Parece consenso que projetos colaborativos em espaços muito hierárquicos não funcionam na maioria dos casos. Já se funcionam é porque os partícipes se abriram a outros modos de relacionar-se, mais horizontais, a exemplo da liderança compartilhada por pessoas ou subgrupos.  

Acredito que todo pocesso autogestionavel prescinda da responsabilização de indivíduos ou subgrupos. Facilita saber que 'alguém' fará mas nada impede que mais pessoas colaborem com a tarefa. 

Um dificultor em grupos de trabalho é quando temos pragmáticos-ativos com poucos conhecimentos e teóricos-reflexivos, pois a tendência dos primeiros é 'fazer' mesmo que não saibam bem o que ou como, pois focam nos resultados imediatos. Aí os segundos 'sofrem' quando identificam lacunas, gambiarras com pouca probabilidade de funcionar e whatever.  

Quanto a tomada de decisão na educação, opino que depende e isso em todos os níveis de ensino. E que são poucas as instituições que articulam ou incentivam espaços democráticos e autogestionários, quiçá legitimá-los. Inúmeros docentes ainda se colocam como autoridade e detentores da sapiência e capacidade decisória e, com isso, não ouvem os alunos. Há também os que criam cenários abertos até o exato ponto que os alunos não os contrariam, questionam ou criticam suas ações e posturas ou discordam de questões institucionais basilares. Quando apesar disso, os alunos mais críticos vão para o enfrentamento, via diálogo, são comumente abafados explícita ou implicitamente pelos docentes. Parece algum tipo de "combinado de regramento oculto" e comum aos professores. Já os que não jogam o jogo, os que escolhem ouvir os alunos, em geral são segregados, taxados de bonzinhos ou libertinos e assim desacreditados.

A educação precisa avançar muito para que inúmeros professores consigam atuar na perspectiva da ação-refleção-ação emancipatória de Freire. As coisas questionáveis 'só acontecem com os colegas'. :D  

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Ainda não entendi bem como funciona o Delibera mas do que vi já fiquei trii interessada em apreender.

E adorei o lance de apresentar no formato de historias, com imagens, fotos, e até mesmo quadrinhos.

Que dizem?

PS Sorry por hj a tarde! Não consegui me concentrar! Um típico dia de chuva com crianças e mais idosos alvorotados por não poder sair do lugar. :P