DESTINATÁRIO DESCONHECIDO (Bahia em Cena - 21.03)
DESTINATÁRIO DESCONHECIDO
(Bahia em Cena - 21.03)
Um jogo de ping-pong com a classe e excelência de especialistas na modalidade, foi o que assisti hoje no Vila. Minhas pálpebras quase não trabalharam nos 50 minutos posteriores à aparição dos dois. O ritmo de acelerado de “bate-bola” tomou conta do palco e fixou a atenção dos reunidos. A doação e a certeza do amparo do colega após a sua fala eram nítidas. Possuíam a “deixa” perfeita, alinhadíssimos, ensaiados como dois dançarinos de Bolshoi.
Por falar em simetria, que cenário maravilhoso! Simetricamente pensado e espelhado. A idéia de uma única história com dois personagens, dois lados, duas idéias, duas versões, foi também solidificada na ambientação.
Opa! Falei “única história”? O conhecido enredo da Alemanha foi contado a partir de um microcosmo. Entretanto, é sabido que acontecera com milhões, tanto de um lado, como do outro. Diversas relações refletiram a fortaleza e coesão germânica versus a fragilidade e impotência judaica (já vista tantas vezes na história mundial).
A alienação alemã – causada pela ascensão da doutrina nazista – pinta os semitas como a grande úlcera do mundo e os culpa pelo declínio do pós-guerra. Assim sendo, corta-se a relação entre Arianos e Judeus. Assim sendo, corta-se a relação entre dois amigos, Schulse e Max.
Detalhes como os olhos fechados em determinados discursos, me fizeram viajar. Afinal, Max necessitava estar “psicologicamente cego” ao lançar aquelas palavras de desespero ao ex-amigo e isso se concretizava ao manter as pálpebras cerradas, tal como o sublime e sutil desprezo de Schulse ao ouvir as angústias do ex-amado judeu o fazia esconder de sua própria memória os longos anos de amizade. Detalhes que não me deixavam piscar com falas dilaceradoras que chegam a machucar os ouvidos ao serem pronunciadas.
O espetáculo e os dois artistas encantam o público (e a mim, óbvio). Noites como essa me fazem entender o porquê do Teatro ser tão amado.
Nai Barretto
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