memorial dia 17 03 2014 Gilberto Reys
Falarei aqui sobre meus registros e comentários sobre o dia 17 de Marços deste ano. O meu primeiro dia dentro da Oficina Preparatório sobre Shakespeare trouxe grandes emoções e grandes debates para o grupo de 15 atores/artistas em formação, colaboradores e estudantes da Livre. Colocou-se a importância de conhecer o local de trabalho até o perigo de se trabalhar como artista neste espaço Vila Velha ou fora dele. Também, não podia faltar o conhecimento histórico da casa que vamos trabalhar. Elementos necessários para seguir uma trilha ou reinventar a trilha, “fazer o teatro que não conhecemos” (palavras de Márcio que gostei muito).
Prossigo meu texto ao som de Tom Zé na música Teatro (Dom Quixote) para rememorar o aprofundamento dentro dos alicerces históricos e encantadores do TEATRO Vila Velho. Quantos loucos “que o transe, o abandono e delírio procura” dentro deste espaço podem encontrar-se e viver sua paixão, seja na iluminação, no depósito, na sonoplastia, em cima do complexo, no palco, nos corredores, nos arquivos, salas de produção, biblioteca, e outros lugares.
Todos estes espaços propõem e realizam o fazer teatral. Conhecê-los é fazer si próprio profundo e completo no entendimento prático tangível da máquina teatral econômica. Cada local desenvolve uma tarefa e tem um custo, tem outros produtos, tem matéria que precisa de cuidados e manutenção para que cada peça não interrompa ou modifique o objetivo/subjetivo dramatúrgico da cena.
Agora conhecido o espaço físico, vamos ao espaço da memória e histórico que se faz por Márcio Meirelles, por Dona Val e entre outros funcionários e pelos arquivos, fotos, banners, bandeiras e cartazes de espetáculos antigos. Ricas as evidências históricas de um passado pleno cheio de sonhos de indivíduos que no seu tempo tinham questões próprias ao tempo e ao sistema que enfrentavam. Muito enriquecedor encontrar estas provas, que provocam perguntas e encontrar respostas sobre o fazer teatral em um determinado período, dentro do vila velha e fora dele. Tentar encontrar uma explicação cronológica, se possível do dito declínio econômico e social da nossa profissão, por exemplo. Ou até de quais e quantos artistas passaram por esta casa e “Onde o mito vomita uma história”.
Só para registrar uma ideia que me ocorreu: O espaço e a forma de armazenamento destes documentos precisam de mais atenção. Arquivos tão velhos e frágeis como aqueles sofrem muito com altas temperaturas, manipulações sem luva, dobraduras. Aprendi um pouco sobre a conservação deste material na faculdade de História. O melhor a se fazer é colocar todos estes arquivos em uma sala com temperatura controlada por volta de 27ºC , com iluminação fria, digitalização do material, o contato só pode ser feito com luva. Não sei se o material é muito antigo, mas estas precauções podem evitar problemas futuros.
A história deste teatro baiano é intrínseca ao da história do nosso país. Vejo aqui um teatro que não se calou às repressões e chibatas do mundo. Os artistas, funcionários e outros desta casa serviram de apoio à sociedade que necessitava lutar seja em discurso ou para se reunir e discutir o momento e política até hoje. “[...]Podem vencer os dragões aliados/Aos caminhões e aos supermercados”[...]. Fundamental inspiração para a nossa formação como artista e cidadão. A maior ferramenta deste novo teatro que pretendemos é o exercício da roda, em que todos são obrigados a dar a palavra. Esta obrigação é maravilhosa, pois nos provoca a pensar, criticar, comentar e analisar o tema do centro. Estamos aprendendo, inclusive eu, a lidar com isso, a não repetir o que o outro disse, a estar atento. Cada um tem muito que falar e escutar. Vamos aproveitar este momento de forma melhor e fazê-lo válido na prática, principalmente.
Diz-se que tem um perigo sobre estar no Vila. Ele é real assim como fazer arte é perigoso. Mas para quem? Será que é porque existe neste um contraponto de partida artístico diferente dos outros locais de fazer arte? É preciso ter coragem para seguir em frente contraponteando.
Enfim, esta imersão que ainda há de criar mais raiz me deixa muito instigado, feliz, curioso, sedento por conhecer este trabalho que me presto dentro de uma casa tão inventiva e reinventiva. Sinto-me contemplado por tudo que vivemos até o momento o dia de hoje. Espero muito aprender com vocês. Fazer este teatro que não conhecemos, que possam falar do presente no futuro como um momento de grandes transformações na busca por um teatro desconhecido. Vamos cuidar e amar cada espaço do Vila Velha.
Gilberto Reys, 17/03/2014, Salvador Bahia, Teatro Vila Velha. Universidade Livre.
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