Memorial 05.09.2014
A sexta-feira trouxe novidades. Trabalhamos novos exercícios de relaxamento, respiração e comunicação não oral. Para a execução do proposto era preciso primeiro se sentir, depois conectar com o outro e ir criando uma sinergia energética de grupo. Os primeiros exercícios foram muito fortes e mexeram com a energia do grupo, positivamente. Tive particular dificuldade no primeiro, na parte em que trabalhamos segurando o ar até ficarmos sem fôlego. Em repouso, demoro muito pra ficar sem fôlego pelos anos de natação e nado sincronizado. Mesmo sedentária, quando atinjo um estado de relaxamento (como estava lá) consigo ficar muito tempo sem respirar. E não era pra fazermos cena, era pra executar aquilo proposto, e me senti mais lenta por que tinha que passar mais tempo antes de perder o fôlego. Adorei o resultado, individualmente, foi o melhor exercício do dia! Depois fizemos duplas e deveríamos executar movimentos e sons simultâneos apenas conectando-se com o outro, muito útil pra aguçar nossos sentidos outros, que não os óbvios como a visão e a fala. Em cena a gente tem que ver até pelo olho das costas.
Quando fomos pra roda, num exercício super complexo proposto, estávamos conectados e prontos pro jogo. Eu sentia isso. Daí a energia foi se dissipando e os motivos vão variar a partir da percepção de cada participante. O fato é que demoramos pra conseguir alguma fluidez no proposto. Depois fomos pras cenas do dia anterior, como algumas pessoas faltaram, um grupo estava desfalcado e não pôde ser trabalhado. O dia todo, fomos expostos a estímulos, e tive muito estranhamento com alguns, na hora, na roda final, expus algumas dúvidas que foram fundamentais pro meu entendimento do processo. Demorei um pouco pra escrever o memorial porque não acho que devemos subjetivar os processos, é preciso analisa-los, espremer a toalha e não simplesmente joga-la pra secar ao vento.
Primeiramente, espero que todos venham tomando consciência do quão valioso é o momento da roda no fim. É lá que diariamente terminamos nossos encontros e onde concretizamos uma relação de confiança. Agora, quero me ater ao que pra mim ficou de central dessa experiência:
Devemos ter uma relação de confiança entre nós, com os colaboradores e a partir daí, objetivar os processos para que possamos apreender o que estão nos ofertando e aprender. O relacionamento de um grupo saudável exige um número de indivíduos trabalhando interdependentemente para completar um projeto, com total participação individual e contribuição pessoal. Dentro dessa relação existem pessoas de carne e osso oscilando entre o medo da rejeição e o desejo de serem amados, porque infelizmente somos doutrinados a vivermos nesse binômio da insegurança. Do acertar e errar. Mas o primeiro passo pra jogar, pra estar inteiro nos exercícios é sentir sua liberdade pessoal. Esquecer esse maniqueísmo que nos mal-educou a vida toda. É preciso procurar contato direto com o ambiente, que deve ser investigado, questionado, experiênciado. Ouvir é o primeiro passo e deve alimentar uma sede por auto-expressão e auto-identidade que é necessária pra expressão teatral. Poucos de nós conseguimos ter esse contato com a realidade. Nos perdemos nas mediações. Nosso mais simples movimento em relação ao ambiente é interrompido pela necessidade de comentário ou interpretação favorável por outra opinião, que nós subjetivamos como autoridade. Assim, vemos com os olhos dos outros, sentimos com o nariz dos outros, nos tornamos tão dependentes da tênue base de julgamento de aprovação/desaprovação que ficamos criativamente paralisados. O fato de depender que outros digam onde estamos, quem somos e o que está acontecendo resulta numa séria perda da experiência pessoal. O que citei acima faz parte de alguns conselhos que Viola Spolin, uma autora que tem um método básico sobre o improviso teatral. Gosto muito de um texto dela que está no livro Improvisação pra teatro, no capítulo chamado A experiência criativa.
Bom, o que quero evitar em mim e no grupo é que todo esse processo se subjetive em frustrações que são impressões nossas, que a gente acaba por transformar em realidade. Isso pode ser um caminho sem volta. Que sejamos cada dia mais inteiros, verdadeiros e que o que nos guie não seja a vontade de fazer o certo, mas a vontade de fazer, ir lá e se jogar. Acho que nosso grupo tem muitos perfis, mas basicamente somos muito verdes, e talvez tenhamos nos deparado com um método que nos exigiu mais do que estávamos preparados. Mas, se aqui estamos, mesmo conceitualmente não preparados, preparados estaremos a partir do momento que formos executando com tranquilidade, sem auto-cobrança e ansiedade, as tarefas que surgirem. Foi um dia complexo, que me fez escrever um memorial complexo, espero que quem leu tenha absorvido um pouco do que eu consegui absorver a partir do que vivenciamos sexta. Foi muito rico! Viver é a maior riqueza que existe. Nada como um dia após o outro. Pois sigamos!
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