Durante o dia criamos um documento colaborativo chamado Rascunhão, onde começamos a produzir furiosamente as ideas que foram surgindo. Ao final do dia, escolhemos os textos mais "consolidades", para continuar a melhorar nos próximos dias. Os textos "graduados" são estes abaixo. Leia, comente aqui ou modifique e melhore-os: cada texto foi colocado em um documento colaborativo independente. Também criamos um documento com sugestões de músicas que inspiram o D. Livre, para quem gosta de um som.
No vídeo abaixo falamos um pouco mais sobre o processo.
Liberdade de projeto
Assim como a liberdade de imprensa ganhou notoriedade como um discurso a favor dos interesses públicos, a liberdade de projeto será a defensora dos interesses do indivíduo. A liberdade de impresa diz que é a favor dos interesses públicos, mas é feita por poucos (os jornalistas). Ou seja, feita por poucos para muitos. Já a liberdade de projeto pode ser feita por muitos, mas chegar ao interesse do individuo. Cada indíviduo tem o direito de projetar livremente. Não apenas para um ideal de eficiência, mas para a realidade artística. Para a beleza, a presença, a poesia. Outras formas, movimentos e discursos. Novos prazeres.
A sociedade atual tem sede de auto-expressão político-social. Vemos movimentos culturais ressurgindo, como a androgenização proposta pela emoficação. As pessoas sentem necessidade de emoção, de participação mais ativa no fluxo da sociedade. Viver, existir.
Isso acaba se refletindo também no Design, como expressão dessa nova identidade. O design livre é uma forma de nos expressarmos com menos preconceito, sem se preocupar com o que o diretor de arte vai achar. O pensamento anda junto com a mão. Falar o que está pensando, pensar o que está dizendo e fazer o que dá pra fazer.
Voltaire repaginado. Discordarás de tudo que o outro projeta, mas defenderá até a morte o direito dele fazer um fork e continuar com seu direito de projetar.
O corpo como fulcro do projeto. Corporeidade. Porque temos que projetar apenas com a cabeça? Porque não usar o corpo todo? O deusigner tem o corpo fechado. Ele não se arranha com nenhum comentário, com nenhuma crítica. O designer livre tem o corpo aberto para o mundo, alimentando-se de materiais, digerindo idéias, nutrindo-se de possibilidades que são incorporadas a partir de sua interação com o ambiente.
Para desenvolver o corpo aberto é preciso desinibir-se. Desinibir-se da vergonha de fazer do seu jeito. A inibição é a disciplina que age no sujeito em favor da dominação. O Teatro do Oprimido trabalha a desinibição para fins políticos, auxiliando o sujeito a lidar com situações constrangedoras na sociedade como, por exemplo, não conseguir sacar sua aposentadoria no caixa automático.
Uma pessoa pode dizer: "ah, mas eu não sei nem usar, quanto mais projetar!" Mas o fato é que uma coisa que foi projetada por você mesmo é muito mais fácil de usar por você mesmo, porque você sabe como foi feito.
Resumindo, os organismos precisam abrir-se e fechar-se para o ambiente de modo a equilibrar suas trocas químicas.
Designer como autor. Não para inflar o ego, mas para assumir a responsabilidade. Levar a culpa pelo erro feito e dividir os sucessos entre os demais autores. Não existe o gênio solitário, nem o design sem criador(es).
Design é a narrativa que contamos, a história que envolve o produto, a situação, o protagonista. Usuário é protagonista, atua e age na história. Usuário não é telespectador. Design não é programa de auditório. Design tá mais para um RPG (role-playing game): onde eu crio a história, mas todo mundo mexe nela. O designer cria plataformas, estabelece conexões por onde podem passar informações.
A vinculação com movimento desconstrucionista de morte do autor
Projeta, designer, se é isso que você diz que sabe fazer. Projeta, mas conseguirá projetar sua própria eternidade? Projetará seu fim, também, ou será esta mais uma prova de sua incompletude? Deus morreu, o autor morreu, porque um mero Designer ficaria ileso?
O outro. Aquele outro design. Aquele design, chamado de design tradicional, design ingênuo, design coxinha... para aquele design, o designer é que da alma ao usuário, através do sopro de vida transmitido por meio dos produtos que ele projeta. Usuário não tem alma. Por isso, lhes falta humanidade. Para o designer comum, projetar é humanizar, pois assim poderá humanizar pessoas através da tecnologia. Eis sua pretensa missão, eis o fardo que carrega sem ninguém lhe pedir.
Aquele designer se diz antropófago. Diz que come o usuario para projetar para entende-lo. Para projetar para este. Mentira. Quem come o outro não se torna o comido, mas se torna outro. O que é preciso é mais designer dando de comer a usuário, mais usuário comendo designer. O designer deve cuidar bem do seu usuário para que seja comido quando está bem gordinho como na fábula infantil João e Maria.
O Design Livre é um vatapá. Sarapatéu. Arroz carreteiro. É uma linguiça apetitosa, daquelas cheias de coisas que voce nem quer saber de onde vieram. Design, livre, é comer com farofa.
Pega tudo que você tem na geladeira e joga numa panela.
O material do Design Livre não é a interação, nem o digital, ou a colaboração, nada disso. O nosso material de trabalho estão em potinhos tupperware que estavam guardados bem lá no fundo, junto daquele feijão num pote de sorvete.
Quer dizer então que vocês ao invés de dar o peixe, vocês ensinam a pescar? Não, a gente não ensina a pescar, a gente ensina que o cara pode ser vegetariano. Ter a opção de ação, estar consciente do que se está comendo, a origem da comida.
O Design Livre não é a mukeka, mas sim o ato de fazer a mukeka. Então não exagera no sal.
O blog permite que os membros de um projeto se comuniquem, discutindo e publicando novidades. É um ótimo lugar para compartilhar processos, desafios e explorar ideias.
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